NÓS E OS OUTROS

Por Lucas Santos

O que temos a dizer ao outro nem sempre é o que ele precisa ouvir.

odio

Este é o pensamento que se faz pouquíssimo presente nos discursos trocados entre diversas frentes no cenário atual.

Nenhum de nós é obrigado a concordar com o ponto de vista do outro e isto é absolutamente claro, pois cada indivíduo possui uma forma de interpretação do mundo influenciada por inúmeros fatores externos que o acompanham desde o seu nascimento e fazem parte da formulação de seu discurso.

Existe, no entanto, uma grande confusão que envolve conceitos básicos para a harmonia entre os indivíduos.

É extremamente fácil ferir o outro e se apoiar na falácia da liberdade de expressão para justificar posicionamentos errôneos, ainda mais se não se compreende o sentido de tal substância.

Pensemos, então, na liberdade, que nos panoramas atuais se tornou outro substantivo para designar o individualismo. Devemos levar em conta, que os grupos detentores do poder sempre agem para benefício próprio e aproveitam ao máximo as oportunidades para disseminar suas ideologias segregantes para, assim, manter sua posição privilegiada. Dessa forma a ressignificação de conceitos é uma ferramenta bastante recorrente neste meio.

Temos, então, a bela liberdade que consiste em fazer o que quiser ou em um substantivo que designa a qualidade de ser livre ou ainda naquilo que todos sabem o que é, mas ninguém sabe dizer o que é. É dessa forma que se transforma um conceito fundamental em um modo fofo de se individualizar os sujeitos.

Não que ser individual seja algo ruim. Pelo contrário. Necessitamos de nossa individualidade para nos auto afirmarmos enquanto parte integrante do social. Porém, este tipo de individualização não leva o outro em consideração, o que foge completamente do ideal da liberdade, pois esta deveria ser uma construção social, em que todas as partes estariam em conformidade e onde a solidariedade seria o princípio fundamental, afinal, enquanto animais sociais dependemos do outro tanto quanto ele depende de nós.

Não é fácil aceitar que o que dizemos ao outro lhe faz mal, ou que não o estamos ajudando quando julgamos seu posicionamento de forma preconceituosa sem se por em seu lugar, ou que não devemos aplicar nossos valores sobre as decisões do outro.

Menos fácil ainda é aceitar que defendemos pontos de vista que não contribuem em nada com o bem estar dos que nos rodeiam.

É muito fácil, porém, dizer ao outro que ele está praticando vitimismo quando ele se sente atacado, é fácil dizer à uma mulher negra da periferia que ela está lá porque não mereceu estar em outro lugar, é fácil dizer à um casal homossexual que eles não são uma família, é fácil dizer a uma mulher trans que ela nunca vai ser mulher pois não pode parir. É fácil falar e GRITAR que não te respeitam quando as críticas negativas recaem sobre seu preconceito.

Difícil é ouvir, procurar conhecer o outro, saber do que ele precisa, praticar empatia, lembrar-se de que não estamos aqui sozinhos e de que os outros não são iguais a nós.

Antes de atacar alguém, antes de dizer que o outro está mal porque merece, pois ninguém fica bem se não trabalha para chegar lá, lembre-se que você está lá apoiado no sofrimento do outro, que cada vez que você ganha, centenas, milhares, estão perdendo porque tudo que você defende se apoia na injustiça e que se quer ser legalista o outro possui todo o direito para ir e vir, e que o mesmo vale pra você, porém, ambos só podem ir até onde o limite da lei os permite, que o corpo e a mente pertencem a si e que o mesmo vale para o outro e que se pensas demais em como o outro pensa e se comporta não está pensando em como fazer da sociedade um lugar melhor.

Até a vista!